IDEIAS FORTES DO MUNDIAL DE ÁFRICA E DA PARTICIPAÇÃO PORTUGUESA

com base nas análises estatísticas e históricas da FOOTBALL IDEAS

terça-feira, 13 de julho de 2010

MUNDIAL-2010: UM BALANÇO EM 10 IDEIAS FORTES



1. O Mundial-2010  deu ao futebol um campeão do Mundo inédito: a Espanha. Desde 1998 (França) que não havia um novo membro neste clube muito restrito (agora com oito selecções) e temos que recuar até 1978 para encontrar uma final entre selecções não-campeães: Argentina-Holanda.

2. A Europa voltou a dominar as grandes decisões de um Mundial, tal como acontecera em 2006 (na altura, Portugal, Alemanha, França e Itália chegaram às meias-finais). Desta vez após uma primeira fase em que os americanos pareciam mais fortes (7 equipas nas 16 dos oitavos de final), o futebol mais equilibrado entre força colectiva e inspiração individual de Alemanha, Holanda e Espanha ditou as leis. E assim aumentou também a vantagem europeia na contabilidade de títulos mundiais: 11-8.

3. A Espanha tornou-se a primeira equipa europeia a sagrar-se campeã fora do Velho Continente, ao mesmo tempo que se juntou ao Brasil no feito de conquistar o título fora do respectivo continente.

 4. A fase final do Mundial-2010 foi a segunda pior de sempre em termos da média de golos por jogo (2.27), ficando longe da média de golos total da história dos Mundiais (2.86) e superando apenas o Mundial-90 (2.21). O melhor marcador (Muller) venceu o prémio com uma das piores marcas de sempre (5 golos).

5. Em contrapartida, este Mundial foi bastante correcto em termos disciplinares: uma média de faltas de 29,3 por encontro, inferior à dos principais ligas europeias, todas com números superiores a 30 faltas por jogo em 2009/10, com a excepção da Inglaterra que na presente temporada se ficou pelas 27,5. Também o número total de cartões amarelos baixou relativamente a 2006 (de  326 para 276), o mesmo acontecendo com as expulsões (de 28 para 18).

6. Apesar destes números, e do nível geral das arbitragens ter sido elogiado pelos observadores, aconteceram dois casos muito polémicos (no Inglaterra-Alemanha e no México-Argentina), que obrigaram a FIFA a prometer repensar a sua até aqui inabalável posição quanto à (não) utilização de meios tecnológicos para auxiliar as arbitragens.

 7. Ao mesmo tempo que os três primeiros Espanha, Holanda  e Alemanha justificaram plenamente as respectivas classificações, os dois finalistas do Mundial, Holanda e Espanha, apresentam um registo impressionante em toda a campanha mundialista: no conjunto, e incluindo a fase de apuramento, 32 jogos disputados  - 30 vitórias. A Holanda venceu 14 dos seus 15 jogos; a Espanha ganhou 15 e 16, perdendo apenas o primeiro da Fase Final com a Suíça, por 1-0.

8. Este foi o Mundial com menos decisões através do desempate por pontapés da marca da grande penalidade desde que este sistema foi adoptado na prova (1982). Apenas dois encontros foram decididos desta forma: Paraguai-Japão (oitavos de final) e Uruguai-Gana (quartos de final).

9. As grandes desilusões do Mundial foram a Itália e a França, eliminadas na fase de grupos, o que constituiu um acontecimento inédito na história das 19 fases finais: pela primeira vez campeão e vive-campeão do Mundo foram afastados simultaneamente na fase inaugural da prova. Igualmente  desapontante foi o comportamento da equipa da casa, a África do Sul, que ficará com o estigma de ter sido o primeiro anfitrião da história dos mundiais a não passar a fase de grupos.

10. No sentido oposto, as principais revelações do campeonato foram o Uruguai (4º classificado, após ter necessitado de um play-off para chegar ao Mundial), e o Gana, que falhou uma inédita passagem de uma equipa africana às meias-finais devido a um penalti desperdiçado no último minuto do prolongamento no jogo com o Uruguai.


segunda-feira, 12 de julho de 2010

ASSIM CRESCEM AS LENDAS

E a Espanha é Campeã do Mundo!

A selecção "patinho feio", da Fúria e pouco mais, durante décadas (até 2007, apenas um grande título, o Europeu de 60, jogado em Espanha) está no topo do Mundo!

Depois do título europeu de 2008, já conquistado sob a égide do tiki-taka à Barça, os espanhóis tornam-se na terceira equipa a deter simultaneamente o ceptro europeu e Mundial, juntando-se à Alemanha (entre 1974 e 1976) e à França (entre 2000 e 2002).

Um prémio mais do que merecido para o actual melhor futebol do Mundo, síntese perfeita da capacidade de conciliar aquilo que faz as grandes equipas de futebol: o colectivismo (um sistema) e o individualismo (a  qualidade individual, a excelência criativa). Não é por acaso que ninguém passa a bola como a equipa espanhola (grande superioridade nas estatísticas de posse e passe de bola) nem tão pouco apresenta dados tão elevados de investidas individuais como "nuestros hermanos" neste Mundial.

Espanha ganhou porque ninguém joga tanto como a Espanha, mas também porque, mesmo assim, a Roja consegue ser um conjunto de trabalhadores, de jogadores humildes, que por muito famosos ou ricos, ou titulados individualmente, são excepcionalmente humildes. Humildes, mas (e apeser de) conscientes do seu valor e da sua força.

Ironicamente, a Espanha ganhou o Mundial às custas da apropriação e desenvolvimento (adaptação) da ideia de futebol criada no país da selecção que defrontou na final: a Holanda.

A tal síntese avançada do colectivismo com o individualismo, da posse de bola como elemento fundamental do jogo, sempre foi a ideia matriz do Futebol Total nascido na Laranja Mecânica dos anos 70, que injustamente perdeu duas finais do Mundial na Alemanha (1974) e na Argentina (1978), porque defrontou nos jogos decisivos as selecções da casa.

Uma ironia que torna ainda mais pesada a tristeza da terceira derrota em outras tantas finais para a Holanda. Uma lenda que assim se reproduz e se torna ainda mais amarga, mas também cada vez mais dramática e poética.

Alguma vez poderia passar pela cabeça de Cruiff  que ao criar a Dream Team do Barcelona nos anos 90, depois aprimorada por Rijkaard e Guardiola na primeira década do nosso século, iria estar a criar o "monstro" que cresceria até voltar a condenar a sua Holanda a ser o eterno segundo do Mundial?

Curioso ainda é o facto de a Holanda até ter conseguido domar a Espanha nesta final, bloqueando o famoso tiki-taka e nem merecendo perder o jogo de ontem. Mas fê-lo também às custas de uma estratégia excessivamente física e agressiva (às vezes até violenta), acabando por pagar o elevado preço de jogar os últimos minutos do prolongamento com menos um elemento. Os minutos que fizeram crescer a lenda.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

25 NÚMEROS PARA ANTECIPAR UMA FINAL


32
Os anos que passaram desde a final do Mundial de 1978, entre Holanda e Argentina, em Buenos Aires, a última disputada por duas selecções sem qualquer título mundial, como acontece no jogo de Domingo.

5
O número de golos apontados por Villa (Espanha) e Sneijder (Holanda), os melhores marcadores da prova antes da final. O espanhol está em vantagem porque jogou menos três minutos do que o holandês no conjunto dos 6 jogos disputados por cada um. Curiosamente, os dois jogadores dividiram os seus golos de igual forma: 2 remates de fora da área e 3 de dentro.

3
O número de finais de Mundiais disputadas pela Holanda e, caso saia derrotada desta, pode tornar-se a primeira equipa a perder três finais em outras tantas disputadas. Para já está igualada com Checoslováquia (1934 e 1958) e Hungria (1938 e 1954) com duas finais perdidas e nenhuma ganha.


1
O número de vezes que a Holanda venceu uma meia-final num campeonato do Mundo, exactamente neste África do Sul-2010, já que em 1974 e 1978 chegou à final após ganhar uma segunda fase de grupos; enquanto em 1994 perdeu com o Brasil no desempate por pontapés da marca de grande penalidade.

6
O número de vitórias da Holanda nesta fase final, correspondendo a todos os jogos realizados. É apenas a 2ª vez que uma equipa chega à final com seis vitórias: a primeira foi o Brasil em 2002 (com Scolari), que se sagrou campeão (2-0 à Alemanha).

14
O número de vitórias da Holanda até ao momento nesta campanha mundialista: 8 no apuramento e 6  na fase final. Ou seja, venceu todos os jogos disputados, estabelecendo um novo recorde.


29
 O número de jogos ganhos pelos dois finalistas do Mundial, Holanda e Espanha, em toda a campanha mundialista: no conjunto, e incluindo a fase de apuramento, 30 jogos disputados  - 29 vitórias. A Holanda venceu os seus 14 jogos; a Espanha apenas perdeu 1 em 16, exactamente o primeiro da Fase Final com a Suíça, por 1-0. Nestes 30 jogos, holandeses e espanhóis marcaram em conjunto 64 golos e sofreram 13...


3
O número de equipas europeias que venceram adversários sul-americanos em jogos de meias-finais dos Mundiais. A Holanda foi apenas a terceira equipa europeia a consegui-lo: as outras duas foram a Hungria (4-2 ao Uruguai, em 1954) e Itália (2-1 ao Brasil em 1938)

12
O número de golos marcados pela Holanda, que foi o segundo melhor ataque da fase final até ao momento, apenas menos 1 do que a Alemanha(13). Conseguiu assim, até agora, uma média de 2 golos por jogo, enquanto a Espanha foi apenas o 6º ataque, a par de Portugal, com 7 golos, à média de pouco mais de um golo por jogo.

5
O número de golos marcados com pontapés de fora da área pela Holanda,  a equipa que até ao momento marcou mais golos desta zona.

15%
A percentagem de aproveitamento remate/golo da Holanda, que detém a segunda melhor eficácia de remate da prova, com 12 golos em 80 remates. Neste particular é apenas batida pela Alemanha com 13 golos em 84 remates, enquanto a Espanha se foca pelos 6.8%: 103 remates para marcar 7 golos.

50%
A percentagem de remates no alvo da Holanda no Mundial. Só uma equipa fez melhor, o Japão, com 55%. Já a Espanha tem apenas 38%.

41%
A percentagem de remates dentro da área da Holanda, a terceira equipa com mais remates desta zona (33 em 80 remates), sendo apenas batida pela Alemanha e pelos Estados Unidos. A Espanha fica-se pelos 23% (35 remates dentro da área num total de 103). Note-se que as Honduras conseguiram rematar apenas 6 vezes dentro da área adversária nos seus 3 jogos disputados no Mundial.

98
O número de faltas cometidas pela Holanda, a equipa do Mundial com mais faltas cometidas, sendo ainda a terceira com mais faltas sofridas (também 98).

3
Número de assistências efectuadas por Dirk Kuyt (Holanda), que faz parte do grupo dos melhores assistentes do Mundial, a par de Schweinsteiger, Ozil, Mueller (todos da Alemanha)e Kaka (Brasil). Xavi (Espanha) e Van Persie (Holanda) têm 2.


28
O número de anos passaados desde que uma selecção detentora do título de campeã da Europa alcança uma final do Mundial.  Foi em 1982 que a Alemanha campeão da Europa em 1980 perdeu a final do Mundial com a Itália. Antes disso apenas a Itália (1970) e a mesma Alemanha (1974), o haviam conseguido. E apenas os alemães, em 1974, juntaram o Europeu ao Mundial por esta ordem.

2
O número de selecções que foram simultaneamente campeões da Europa e do Mundo. Se os espanhóis ganharem o jogo de Domingo serão apenas a 3ª equipa a deter ao mesmo tempo os dois títulos, depois da Alemanha (Euro-1972 e Mundial-1974) e França (Mundial-1998 e Europeu-2000).

7
O número de jogadores do Barcelona que iniciaram o jogo pela selecção espanhola frente à Alemanha. Desde 1970 que não se via uma selecção entrar numa meia-final de um campeonato do Mundo com tantos jogadores de apenas um clube. No Mundial-70, o Uruguai actuou perante o Brasil com 7 jogadores do Nacional de Montevideu. Antes disso, apenas a Checoslováquia do Mundial-34 jogara uma meia-final com tantos elementos de um só clube, o Slavia de Praga.

4206
O número de passes realizados pela Espanha até ao momento, à média de 701 passes por jogo. A Espanha bate toda a concorrência neste Mundial, logo seguida da Holanda com 3366 (à média por jogo de 561 por jogo). A Espanha tem o incrível número de 80.5% de passes completos. Dado ainda mais impressionante se tivermos em conta que mesmo nos passes longos realizados (631, à média de mais de 100 por jogo), conseguiu sucesso em 64%. Ninguém fica perto destes números...

57
O número de passes efectuados dentro da grande área adversária pela selecção da Espanha (9.5 por jogo), que deixa todas as outras equipas bem distantes neste particular.

97
- O número de ataques (com tentativa de finalização) da Espanha, à média de 16.2 ataque por jogo, enquanto a Holanda se fica pelos 60 (10 por jogo). O segundo melhor neste particular foi o Brasil com média de 14 ataques por jogo.

29
O número de investidas individuais de Sérgio Ramos, lateral direito da Espanha, que é a equipa com mais investidas individuais, com 3 jogadores no top5: 1º Sérgio Ramos (29), 2º Podolski (27), 3º Messi (24), 4º Villa (23) e 5º Iniesta (21).

103
O número total de remates efectuados pela Espanha, que se assume como a equipa que mais remates efectuou até ao momento no Mundial (média de 17,2 por jogo), embora Gana (20.2) e Argentina (19) e Brasil (17.6) tenham médias mais elevadas por jogo.

106
O número de faltas sofridas pela selecção espanhola, a mais “massacrada” pelos adversários, à média de 17.6 sofridas por jogo, e simultaneamente uma das que cometeu menos faltas (média de 10 por jogo), apenas suplantada pela Coreia do Norte, com 9.

3
O número de cartões amarelos vistos por jogadores espanhóis nos seis jogos até agora realizados, que tornam a Espanha na equipa mais correcta da competição, não tendo visto ainda qualquer cartão vermelho.

O BOLA DE OURO DO MUNDIAL-2010


Antes dos jogos de atribuição do 3º lugar e da final, a FIFA nomeou os 10 futebolistas que podem aspirar ao título de "melhor jogador do Mundial-2010". São os seguintes:

Diego Forlán (Uruguai), Asamoah Gyan (Gana), Andrés Iniesta (Espanha), Lionel Messi (Argentina), Mesut Ozil (Alemanha); Arjen Robben (Holanda), Bastian Schweinsteiger (Alemanha), Wesley Sneijder (Holanda), David Villa (Espanha) e Xavi (Espanha).

A FIFA anunciou os 10 candidatos, escolhidos pelo seu Grupo de Estudos Técnicos, em conferência de imprensa nesta sexta-feira, entre os quais se contam três espanhóis, dois holandeses e dois alemães. Destaque ainda para a ausência total de defesas e guarda-redes desta lista.

É caso para dizer que os dois últimos jogos, principalmente a final, terão uma influência importantíssima na decisão final, sendo que entre os sete vencedores anteriores houve quatro casos de futebolistas que não ganharam o respectivo Mundial, com destaque para os três últimos: Zidane, Kahn e Ronaldo.

Recordem-se os nomes dos "Bolas de Ouro" dos Mundiais, até hoje.


2006 : Zinédine Zidane (FRA)
2002 : Oliver Kahn (GER)
1998 : Ronaldo (BRA)
1994 : Romário (BRA)
1990 : Salvatore Schillaci (ITA)
1986 : Diego Maradona (ARG)
1982 : Paolo Rossi (ITA)

Pessoalmente, os três futebolistas que mais me impressionaram até ao momento foram Bastian Schweinsteiger (Alemanha), Wesley Sneijder (Holanda) e Xavi (Espanha). Acredito ainda que Xavi e Sneijder partem na pole-position dado que vão disputar a final.

As duas grandes revelações são, na minha opinião, alemãs: Ozil e Mueller.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

SHOW BARÇANHA, A ACTUAL LARANJA MECÂNICA....

Um Barcelona reforçado (com Casillas, Ramos, Capedvilla e Alonso) vulgarizou a até agora considerada melhor equipa deste Mundial, a Alemanha, que aplicara chapa"4" a Argentina e Inglaterra, e segue para a final do Campeonato do Mundo, com a naturalidade das coisas simples e justas.

Vamos ter um campeão do Mundo inédito e nada mais justo que seja esta Espanha de inspiração, estrutura, espírito, modelo, base, culé. O famoso "clube dos 7 campeões do Mundo" vai ter um novo membro e grande surpresa seria que fosse a Holanda, que já vai na terceira tentativa (terceira final, depois de 74 e 78).

Para os holandeses, há a esperança que "à terceira seja de vez", mas acima de tudo que num Mundial pouco característico, ou seja como poucas injustiças e dramas (os melhores em cada jogo têm ganho no fim), todo o drama e surpresa se concentre no jogo da final.

Porque uma coisa é certa: se a Espanha jogar assim na final só os deuses tantas vezes loucos do futebol poderão dar o título aos holandeses.

Ontem, o Barcelona, perdão, a Espanha, voltou a ser grande. Se calhar como ainda não fora neste Mundial - apesar da grande exibição contra Portugal (diminuída cá no burgo pela sanha anti-Queiroz). O tiki-taka funcionou em pleno, com Pedro no lugar do irreconhecível Torres, e os alemães fizeram o papel de baratas tontas, a correr atrás da bola.

Isto porque a circulação espanhola era quase perfeita, mas também - e há quem esqueça isto - a pressão defensiva de nuestros hermanos sobre a Alemanha em posse foi sempre asfixiante. E não é que pressionados desta forma até os elogiados alemães mostram as suas limitações técnicas? Mais uma vez se confirmam duas verdades essenciais do futebol: sem tempo nem espaço é difícil jogar; sem bola é impossível fazê-lo.

O Barcelona, perdão, a Espanha, é uma máquina de jogar futebol. Tal como acontecia com a Laranja Mecânica da Holanda 74, o termo máquina parece pouco aplicável quando a fantasia, o futebol apoiado, dominam. Mas o termo dá bem conta do funcionamento impecável em termos colectivos, a harmonia entre sectores, a forma pendular e repetitiva como a equipa joga: pressão asfixiante para recuperar a bola; circulação segura atrás, rápida à frente, mantendo a posse e procurando sempre várias linhas de passe, até à finalização.

No Domingo, a Laranja Mecânica é espanhola. A ver vamos como os holandeses resolvem esta ironia...

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Laranjina C

A selecção da Holanda é a primeira finalista do Campeonato do Mundo de 2010.

Depois da Laranja Mecânica de 1974 e 1978, com duas finais perdidas de mundiais (perante as selecções organizadoras), e um futebol que encantou tudo e todos; e do Trinaranjus de 1988 (do famoso trio Rijkaard, Gullit e Van Basten), campeão europeu, chegou a vez da Laranjina C de 2010. C para 3ª geração dourada do futebol holandês, C para Consistente.

Esta é uma selecção laranja menos sumarenta, menos brilhante, menos espectacular. A começar pelo seu treinador, Bert van Merwick, que faz da discrição a sua grande característica. Bem diferente do carisma de Rinus Michels, o inventor da Laranja Mecânica.

A actual equipa holandesa vive de um equilíbrio harmonioso entre consistência colectiva, alicerçada numa defesa experiente e numa dupla de centro-campistas trabalhadores, De Jong e Van Bommel, e a genialidade de Sneijder e Robben, os verdadeiros criativos da Laranjina.

Não jogam o famoso Futebol Total holandês, mas todos sabem muito bem o que têm que fazer dentro do campo. Foi assim que surpreenderem o mundo eliminando o Brasil, afinal de contas o mais favorito de todos os favoritos. Seguiu-se o Uruguai, nas meias-finais, e para a Holanda o ideal é que todos continuem a considerar o Espanha-Alemanha como a final antecipada.

Acredito que se vai repetir a final Alemanha-Holanda de 1974, um dos jogos mais míticos da história dos Mundiais. Mas desta vez será a Alemanha a surgir como favorita, o que poderá muito bem ser meio-caminho andado para os holandeses vencerem.

domingo, 4 de julho de 2010

A VELHA EUROPA, AFINAL...

Muito se falou da decadência das selecções europeias neste Mundial. O campeão e o vice-campeão (Itália e França) caíram sem apelo, outras equipas que tinham grandes possibilidades de marcar presença nos oitavos de final, como Dinamarca, Sérvia, Eslovénia ou Suíça, foram enorme desilusão.

Nos oitavaos-de-final o panorama era dominado pelos americanos (do sul, centro e norte), com 7 equipas, contra apenas 6 europeias. Acontece que as do Velho Continente jogaram todas entre si, pelo que sobraram 3 nos quartos-de-final, contra 4 americanas (agora todas do sul).

E foi exactamente nos (excelentes) quartos-de-final da prova que os representantes europeus ultrapassaram em força os sul-americanos, com três jogos-três vitórias, incluindo os chocantes 4-0 da Alemanha à Argentina e a incrível reviravolta (2-1) da Holanda sobre o Brasil.

De tal forma tudo mudou que apenas o Uruguai sobreviveu como representante da América e para isso terá ajudado ter defrontado uma equipa não-europeia, o Gana.

Afinal de contas, o cansaço provocado pelas principais ligas europeias (Espanha, Itália, França, Inglaterra e Alemanha) onde jogam quase todos os futebolistas das três selecções favoritas que restam (Espanha, Alemanha e Holanda) não impede que se jogue bom futebol, competitivo e equilibrado entre força colectiva e argumentos individuais, numa fase final de um Campeonato do Mundo.

Afinal de contas, a Velha Europa do Futebol está viva e recomenda-se!

sexta-feira, 2 de julho de 2010

QUANDO A ESTATÍSTICA PODE SER UMA BATATA...





DADOS COLECTIVOS PORTUGAL NO MUNDIAL-2010 (Médias por Jogo)
ELEMENTOS
FASE de APURAMENTO
FASE FINAL (toda)
FASE FINAL SEM JOGO COM COREIA DO NORTE
1. Golos Marcados
1.58
1.75
0
Pequena área
1.41
1.75
-
Bola parada
0.25
0
-
2. Remates
17.91
12
8
 Grande área 
9.41
4.75
1.66
No alvo
7.5
5.25
2.66
Perigoso
8
4.25
1.33
3. Passes de ruptura
8.75
5
2
4. Perdas de Bola
42.25
34.5
37
5. Recuperações de Bola
42.9
38.75
37
Recuperação bola campo adv.
9.5
6.5
5.3
6. Cruzamentos
22.3
14
10
7. Cantos
7.8
4
3.66
8. Faltas Cometidas
13.4
15.5
15.66
9.  Faltas Sofridas
17.5
11.75
14.33

Fonte: FOOTBALL IDEAS




Na FOOTBALL IDEAS temos a noção de que a estatística só é útil se for interpretada - porque se não corremos o risco de que nos lembrem constantemente a piada que refere a estatística como sendo a "ciência que diz que se eu comi um frango e tu não comeste nenhum, teremos comido, em média, meio frango cada um"? 


Pois bem é mais ou menos o que se passa com o balanço estatístico da participação portuguesa no Mundial-2010. A equipa até marcou em média quase 2 golos por jogo...Pena que todos tenham sido obtidos no mesmo (com a Coreia do Norte) e nenhum nos outros três jogos.


Algo de semelhante acontece com os dados de remates, passes de ruptura, cruzamentos, etc. Em média, os números não são maus - em alguns casos até ao nível da fase de apuramento - mas se retirarmos os números do jogo contra os coreanos o cenário que se nos apresenta é absolutamente confrangedor.


Nos jogos com Costa do Marfim, Espanha e Brasil, a selecção nacional foi, em termos ofensivos, quase nula, de uma pobreza franciscana, pouco ou nada jogando, raramente finalizando (quase sempre de fora da área, sem acertar no alvo e/ou criar perigo), como se pode ver no quadro anexo.


Não chegar a dois remates dentro da área adversária em média por jogo diz bem da inofensividade e falta de profundidade do nosso ataque; não chegar a realizar três remates enquadrados na baliza contrária torna quase impossível o sucesso; e pouco ultrapassar um remate perigoso por jogo é no mínimo ridículo e torna qualquer esperança de ir longe na competição uma verdadeira anedota. E já nem se fala do que significa fazer em média por jogo dois passes de ruptura.


Bem se pode dizer que tivemos o azar de defrontar neste três jogos (de um total de quatro) o 1º e o 2º do ranking e ainda uma selecção que era a 10ª favorita para as casas de apostas, sendo o Brasil e a Espanha primeira e segunda.


Tudo isso é uma realidade. Mas quem quer brilhar num campeonato do Mundo tem no mínimo que jogar algum futebol.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

CONTROLEM-NO...AGORA.

Depois da eliminação frente à Espanha, o tema do dia é...Cristiano Ronaldo.

Para uns, a sua pobre participação mundialista, agravada pelo destempero no final do jogo direccionado para Queiroz, é da inteira responsabilidade de um grande jogador, mas imaturo e egoísta.

Para outros, a culpa é de Queiroz, que colocou demasiada pressão sobre o CR7, impondo-lhe demasiada responsabilidade e esperando que ele resolvesse sozinho os problemas da equipa. Mourinho, que se manteve em silêncio durante todo o Mundial, já alinhou por esta posição.

Como quase sempre acontece, a verdade deve estar algures no meio destas posições extremadas.

Ronaldo já não é uma criança (embora às vezes pareça) e isso é importante, porque ter 25 anos não é ter 18, além de que vive há muito a experiência de ser considerado um dos melhores à escala planetária, com tudo o que isso implica em termos de postura, responsabilidade social, etc.

Pelo que são inadmissíveis determinados comportamentos egocêntricos numa actividade que é, acima de tudo, colectiva e gregária.

Por outro lado, toda a estrutura da selecção, incluindo Queiroz, os media, etc, contribuiram muito para criar este "monstro", de egocentrismo e vedetismo, prejudicial à equipa e interesses colectivos. O  exemplo paradigmático disso é dar a braçadeira de capitão a um jogador/ homem com estas características: o capitão de equipa não tem que ser o seu melhor jogador, ou o mais mediático.

E agora parece tarde para querer controlar o que não foi controlado a tempo, em tempo útil.

Porque não foi ontem que CR7 mandou calar os adeptos num estádio durante um jogo, quando estes assobiaram a equipa.

Porque não foi ontem que CR7 afirmou que se todos os colegas se dedicassem tanto à equipa como ele próprio Portugal era campeão do Mundo.

Porque não foi ontem que CR7 chegou ao estágio da selecção de helicóptero.

Porque não foi ontem que CR7 faltou a um compromisso da selecção por estar gripado.

A grande questão no futuro imediato da Selecção portuguesa passa pela liderança. Dentro e fora do campo. E essa questão envolve dois nomes que parecem ter exactamente a falta de capacidade de liderança como grande calcanhar de Aquiles: Ronaldo e Queiroz.