Tal como acontecia com a Selecção de Scolari, Portugal jogará no Mundial aquilo que jogar Deco
João Nuno Coelho / Football Ideas
Playmaker em português diz-se “Deco” e é um exemplar único no nosso futebol. Os jogos já realizados por Portugal na preparação para o Campeonato do Mundo confirmaram uma realidade já antiga: a equipa só tem um verdadeiro criativo no meio-campo. Para um conjunto que tem como característica fundamental do seu estilo de futebol dominar os adversários, jogar em ataque organizado, assumir o jogo, é muito curto. Até porque Deco está na fase descendente da sua carreira, tendo sido pouco utilizado durante toda a época no Chelsea.
Sem um Deco a carburar, como aconteceu perante Cabo Verde, a selecção fica abandonada à sorte dos raides individuais de Ronaldo e Nani, aos remates de longe, aos cruzamentos para um avançado (Liedson ou Hugo Almeida) que não se dá bem a jogar como único ponta-de-lança.
Com um Deco forte e inspirado, como nos primeiros 45 minutos perante os Camarões, sucedem-se os passes desequilibradores para os avançados, as mudanças de ritmo e de flanco que criam inúmeras jogadas de apuro para os adversários.
O luso-brasileiro tem a capacidade de juntar num jogador só o homem de equipa e o génio, capaz de jogar, fazer jogar e desequilibrar. Só ele, garante em média à Selecção mais de quatro passes de ruptura por encontro, um número que se aproxima dos 50% de passes deste tipo efectuados pela equipa nacional.
Por isso mesmo Deco acaba por ser mais importante na equipa do que o próprio Ronaldo. E isto acontece porque além de desempenhar uma missão mais decisiva no modelo de jogo português, Deco não tem substituto no onze, enquanto que na posição de Ronaldo existem outros jogadores de qualidade, cuja utilização não altera os princípios e rotinas da equipa.
A performance da Selecção portuguesa está pois muito dependente da capacidade conjuntural de Deco. Isso ficou bem patente durante o Euro-2004, o Mundial-2006 e o Euro-2008 sendo que o luso-brasileiro esteve em bom nível em todas estas fases finais, sem ter estado exuberante. A equipa portuguesa ressentiu-se do desgaste que ele foi acumulando em ambas as provas e também por isso não foi mais longe.
Queiroz continua a defender que Portugal não pode estar dependente da presença ou da forma de determinados jogadores. Talvez por isso, tem esboçado um sistema alternativo – por exemplo na segunda parte perante os Camarões - em que joga com um número 10 (Danny) de pendor mais ofensivo, atrás de dois avançados. Essa poderá muito bem ser a única forma de evitar uma total “Deco-dependência”, principalmente num momento em que Deco parece estar claramente na fase descendente da sua carreira
Quadro – A importância de Deco na construção de jogo da selecção portuguesa
Passes de ruptura (média) | Selecção | Deco |
Apuramento Mundial-2010 | 8.4 | 2.5 |
Fase Final Euro-2008 | 12 | 6 |
Apuramento Euro-2008 | 12,5 | 4,5 |
Fonte: FOOTBALL IDEAS
Deco é sem dúvida essencial para o nosso sucesso; aliás trata-se de um jogador que passou, não ao lado de uma grande carreira, mas de um maior reconhecimento internacional, sem dúvida, merecido, porque nos últimos grandes eventos onde estivemos presentes, existiram jogos, onde, carregou a selecção às costas. Acho que o Professor, como bem referes na tua crónica, e viu-se contra os Camarões, já anda à procura de alternativa à Decotina. O Liedson vai necessitar de esforçar-se ainda mais, porque no Sporting raramente joga sozinho; na Nazionale já vai ser diferente.
ResponderEliminarPara este Mundial espero:
- Eduardo se confirme como um guarda de redes de grande nível; acho que tem tudo para isso,e por detrás de todas as críticas, algumas vezes justificadas, penso que é um jogador ainda em evolução (com poucos anos de Primeira Liga, ainda à pouco tempo estava emprestado pelo SCBraga ao V.Setubal);
- não vamos caçar com o melhor lateral direito (Boswinga) europeu; mas Paulo Ferreira dará conta do recado;
- que Fábio Coentrão não se deixe levar pelo endeusamento de ser o único representante do clube 6 milhões; e confirme as qualidades que tem, porque na minha perspectiva não são bons 6 meses que transformam alguém em valor seguro para Real Madrid de Mourinho;
- uma dupla de centrais (Ricardo Carvalho/Bruno Alves ou Pepe) para ser lembrada pelos analistas deste Mundial;
- Pedro Mendes ao seu nível; aquele jogador que até hoje não compreendi porque terá deixado o meu clube (FCPorto);
- um Pepe recuperado; e isso basta
- um Raul Meireles que jogue para o contrato, e que faça tudo para não voltar ao seu clube, depois de uma época muito pouco ao seu nível;
- Nani como a gazua que permite assaltar defesas à prova de assalto;
- Danny aproveitado com jogador de grande valor;
- Simão dos grandes dias; e um Tiago que deixa de ser um jogador intermitente
- que seja o Mundial de Cristiano Ronaldo, e que facture na selecção ao nível do que factura no Real Madrid e nas beldades de várias nacionalidades (pelo menos pelo que escrevem as revistas do "corazon");
- e especialmente que seja o Mundial de alguém que ainda está a tempo de mostrar-se com um dos maiores treinadores do seu tempo; mas que terá o "Tudo ou Nada" na África do Sul. Se tudo correr mal, ninguém se irá lembrar dos Mundiais de 89 e 91.
Aposto em Portugal.
Carlos Cunha
Ao contrário do leitor que acima comentou (Carlos Cunha), não deposito grandes esperanças na nossa selecção:
ResponderEliminarVejamos porquê:
- Eduardo não é de certeza absoluta um guarda-redes de topo. Não defende uma equipa grande em Portugal e todos sabemos que é diferente defender o Braga de defender um dos 3 grandes. Alémd e ter carências nas bolas altas (cruzamentos). Nada a ver com Júlio César, Buffon, Casillas, etc;
- não temos laterais à altura. Falta o grande Bosingwa. Paulo Ferreira não dá conta do recado, em especial no jogo aéreo. Prefiro Miguel, apesar de tudo.
Na esquerda, enter Duda e Coentrão, fico à espera para ver. São bons no capítulo ofensivo, mas deixam muito a desejar no jogo defensivo. Relembro que Coentrão, em Portugal, praticamente só atacava...
- duvido que Pepe recupere a tempo de estar em totais condições para o nível exigido para um Mundial;
- não temos um trinco como em outros tempos (Paulo Sousa, Costinha, Petit)... temso Pedro Mendes, um grande jogador, é certo, mas sem a agressividade necessária para aquela zona do terreno, sem capacidade no jogo aéreo e já numa fase descendente da sua carreira;
- não temos nenhum substituto para o número 10 Deco. Danny é mais uma espécie de João Vieira Pinto moderno. Não é um 10. É um jogador que joga nas costas do avançado, estilo Paul Scholes de há uns anos. E Portugal, sem 10, como se lê no texto do João Coelho, não funciona.
- não temos avançados para um Mundial. Há equipas que se apresentam com Luís Fabiano, Grafite, Tevez, Aguero, Milito, Higuain, Torres, Villa, Rooney, Anelka, Van Persie, Iaquinta, Di Natale, Quagliarella, etc...
Liedson está numa fase descendente e Hugo Almeida não é um finalizador nato.
- e temos a interrogação C. Ronaldo, que tarda em provar na selecção o que faz nos clubes.
Mas claro que espero estar enganado e que os jogadores se apresentem como frente aos Camarões. Mas temos que ter em conta que estes Camarões também pareceram bastante fracos, ainda para mais a jogar com 10 grande parte do encontro...
Um abraço e parabéns pelo blog,
Rodrgo de Almada Martins
Olá João,
ResponderEliminarEstou plenamente de acordo com a tua análise da "Deco-dependência". Infelizmente é o que temos e é com isto que temos de contar. À semelhança de outros "comentadores" também não tenho fé nenhuma nesta selecção; não tanto pelos jogadores mas sim pela falta de capacidade de liderança do Carlos Queirós. Não é que ele não saiba do assunto (naturalmente que sabe, caso contrário o Manchester não o teria contratado para ser adjunto do Sir) mas falta-lhe, parece-me, aquela capacidade de liderança que só alguns possuem e que faz a grande diferença (naturalmente já sabes em quem estou a pensar: Mourinho, claro). Donde, vou torcer, como sempre fiz, pela nossa selecção, mas tenho sérias dúvidas que ela passe a primeira fase. Oxalá esteja errado.
Parabéns pelo blog.
Abraço
Diniz Cayolla Ribeiro