IDEIAS FORTES DO MUNDIAL DE ÁFRICA E DA PARTICIPAÇÃO PORTUGUESA

com base nas análises estatísticas e históricas da FOOTBALL IDEAS

quinta-feira, 10 de junho de 2010

EUSÉBIO, O EXTRATERRESTRE

A FOOTBALL IDEAS organizou em Guimarães (Cinema São Mamede), no passado sábado, dia 5 de Junho, uma sessão-debate dedicada às participações da Selecção portuguesa em fases finais de campeonatos do Mundo, integrada no evento "CINEMA PRÓ MUNDIAL".

A sessão, em que foram mostradas imagens de todos os jogos de Portugal nas referidas fases finais (1966, 1986, 2002 e 2006), comentadas e analisadas por Luís Freitas Lobo (comentador de futebol), Alberto Festa (internacional português no Mundial-66), Francisco Pinheiro (historiador do desporto), teve a moderação de Álvaro Costa (radialista e apresentador de TV).

Foram muitas as questões relevantes abordadas, de natureza histórica, sociológica, táctica, destas participações portuguesas, mas há um aspecto que chamou em particular a minha atenção: a performance verdadeiramente extraordinária de Eusébio no Mundial-66.

Não é novidade para ninguém que o Pantera Negra foi o melhor jogador português do século XX, com protagonismo determinante nos sucessos do Benfica e da Selecção Nacional nos anos 1960, a primeira era dourada do futebol em Portugal. Mas os dados e as imagens dos jogos da selecção relativas ao Mundial de Inglaterra mostram de forma impressionante que Eusébio foi a grande razão para o único momento de brilhantismo à escala global da equipa nacional até aos anos 1980 (ou seja em 60 anos de história).

Até 1966 nunca Portugal conseguira o apuramento para uma fase final de uma grande competição. Possuía um registo competitivo claramente negativo, sofrera várias goleadas em encontros de apuramento para mundiais (9-0 da Espanha, 9-1 da Áustria, etc), fazia parte de uma segunda divisão do futebol europeu.

A partir de 1964 tudo isto mudou: na qualificação para o Mundial-66, Portugal eliminou o vice-campeão do Mundo, a Checoslováquia, deixando ainda pelo caminho a forte equipa da Roménia. Mas para isso foi necessário que Eusébio desequilibrasse completamente as contas do apuramento: apontou 7 dos 10 golos conseguidos por Portugal nos seis jogos disputados, foi um gigante em quase todas estas partidas. Graças a ele, chegamos a Inglaterra contra todas as expectativas internas e externas.

No entanto, isso foi apenas um aperitivo para o que se seguiria. Em Inglaterra, Eusébio alcançou o título de melhor marcador da prova, com 9 tentos (num total de 17 apontados por Portugal) e foi quase consensualmente considerado o melhor jogador do Mundial (apenas a organização se inclinou para o inglês Bobby Moore, numa clara demonstração de caseirismo).

Para compreender a importância de Eusébio no jogo dos "Magriços" basta ver as imagens dos jogos ou analisar as estatísticas dos mesmos que a FOOTBALL IDEAS produziu recentemente. Por exemplo no jogo com o Brasil (3-1) e com a Coreia do Norte (5-3), Eusébio apresenta números, designadamente os relativos aos remates efectuados, que são quase inacreditáveis. À volta de uma quinzena de remates em cada jogo (um número que hoje é normal numa equipa inteira), dos quais cerca de 10 no alvo e com perigo.

Claro que este era um futebol diferente, com mais espaço e tempo para pensar e executar, permitindo mais remates e mais situações de golo. Mas o que verdadeiramente impressiona nas exibições de Eusébio em Inglaterra há 44 anos (para além da sua potência, força, velocidade e capacidade de remate), é a maneira como "carrega a equipa às costas", resolve os problemas sózinho. Como "leva tudo à frente", corre, finta, remata, marca golos.

Como Cristiano Ronaldo, Eusébio era um jogador eminentemente individualista, às vezes um pouco autista. Mas sempre muito voluntarioso e verdadeiramente empenhado no sucesso da equipa. Acontece que neste futebol dos anos 60 isso chegava para decidir muitos jogos. Infelizmente para Ronaldo e para Portugal o futebol dos nossos dias é bem diferente. Convém que CR7 perceba isso o quanto antes.

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