IDEIAS FORTES DO MUNDIAL DE ÁFRICA E DA PARTICIPAÇÃO PORTUGUESA

com base nas análises estatísticas e históricas da FOOTBALL IDEAS

terça-feira, 15 de junho de 2010

O MEDO

Há jogos de futebol que parecem acabar mesmo antes de começarem.

Foi o que aconteceu com o Costa de Marfim-Portugal, à imagem do que tem vindo a suceder em vários encontros deste Mundial.

O que dizer de um jogo praticamente "sem balizas", em que se rematou em apenas 12 ocasiões, com três tentativas enquadradas no alvo. Foi um jogo tão anti-jogo, que o único remate com perigo foi o de Ronaldo ao poste, aos 10 minutos de jogo. Um remate perigoso em 90 minutos...


Nem a ansiedade provocada pela estreia, nem tão pouco a importância para a classificação final do grupo G da partida com a Costa do Marfim podem explicar a total incapacidade da equipa de Carlos Queiroz apresentar o mínimo de qualidade futebolística.


Os números da Selecção Nacional neste jogo ilustram na perfeição uma actuação desgarrada, tensa e desinspirada. Portugal não foi capaz se libertar do colete de forças em que foi envolvido pelos costa-marfinenses, não encontrando soluções para romper e desequilibrar nem pelo centro nem pelas alas. Aliás, não há registos recentes de um jogo em que a equipa portuguesa tenha criado tão poucas situações de finalização: apenas seis remates em 90 minutos, só por duas vezes na direcção da baliza. Mesmo assim, foi Portugal que conseguiu o único remate perigoso deste encontro tão insípido, quando Cristiano Ronaldo atirou, de longe, ao poste.


Como explicar este aridez ofensiva?


Por um lado, a equipa foi inofensiva nas penetrações centrais, devido também ao sobre-preenchimento da zona pelo adversário.  Muitos passes errados – principalmente aqueles que podiam desequilibrar a defensiva da Costa do Marfim – e falta de movimentações de ruptura dos médios portugueses, principalmente de Deco, impediram que o futebol luso fluísse e criasse lances de perigo perto (ou dentro) da área contrária. Assim, não surpreende que Portugal só por uma vez tenha rematado dentro da área dos africanos.


Por outro lado, a Selecção não explorou devidamente os espaços na alas, com Coentrão e Paulo Ferreira a serem apenas defesas e não laterais. Alem disso, Ronaldo e Danny nunca foram extremos bem abertos, preferindo flectir para o centro do terreno. Não é por acaso que Portugal terminou a partida com o incrível número de seis cruzamentos efectuados, sendo que na primeira parte não efectuou um único cruzamento para amostra. Acresce dizer que o flanco esquerdo produziu apenas um cruzamento, apesar de Coentrão ser conhecido pela sua qualidade ofensiva.


Perante este cenário a outra possibilidade de criar desequíbrios ofensivos seria pressionar alto o adversário, obrigando-o a falhar em zonas perigosoas para a sua defesa. Mas aí o retraimento táctico da Selecção teve uma preço muito alto; não foi apenas a Costa do Marfim que defendeu quase sempre atrás da linha da bola, sem pressionar alto o adversário, o que poderia permitir recuperações de bola realmente perigosas. As duas equipas, sempre mais preocupadas em não perder do que em tentar ganhar, apenas recuperaram quatro bolas cada uma em meio-campo adversário.

Assim não surpreende também do lado da Costa do Marfim os remates produzidos tenham sido poucos (5), só  um deles foi efectuado na grande área portuguesa.


Fica, pois, completo o retrato de um jogo literalmente nulo, impróprio de uma fase final do campeonato do Mundo. Impróprio, mas terrivelmente típico deste Mundial, para já  dominado pelo medo de perder que tolhe as equipas e resulta em espectáculos deprimentes.

QUADRO: Comparação do jogo Costa do Marfim-Portugal com as médias por jogo na fase de apuramento para o Mundial-2010
 Portugal-Costa do MarfimMédia por jogo na fase de apuramento
Remates617.9
Remates na área19.4
Remates no alvo27.5
Remates perigosos18
Passes de ruptura18.8
Cruzamentos622.3
Recuperações de bola em meio-campo adversário49.5

Fonte: FOOTBALL IDEAS




NOTA FINAL: no site da FIFA é possível ver que este Portugal-Costa do Marfim foi o encontro com menos remates e oportunidades de golo até ao momento.

Mas a verdade é que não foi muito pior do que vários dos jogos disputados. É o que acontece quando o medo se sobrepõe a tudo o resto. O medo tolhe. O medo de perder, o medo de ser eliminado.

Chega-se à conclusão de que quem tinha razão era mesmo Bill Shankly: o futebol não é uma questão de vida ou de morte,  é ainda mais importante.

Mas não devia ser.

1 comentário:

  1. simplesmente um jogo de medo, sem garra, sem querer, sem vontade! e se a barra não lá estivesse será que o medo teria sido dissipado?

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